por Flávio Silva*
Ano novo, velhos ciclos. Assim é a vida. Na petroquímica como na vida, tudo anda em ciclos. Não à toa, agora os preços e mais, as margens e spreads, dos produtos, começam a de fato entrar no ciclo de baixa.
Para abrir o ano, escolhemos um dos temas que mais impactam o setor: os spreads. Entende-se por spread a diferença entre o preço do produto e sua(s) principal(is) matéria-prima(s). Ele é uma boa representação das margens médias do setor.
Este primeiro gráfico traz uma análise de preços do polietileno (PEAD) nos Estados Unidos, Ásia e Brasil. São preços em dólar por tonelada e mensais, e a sigla SEA é abreviação de Sudeste da Ásia, CFI, FAZ e CFR são termos internacionais de comércio (incoterms) e ARA se refere ao preço da nafta nos portos de Amsterdam – Roterdã - Antuérpia.
Fonte: Polymerupdate
Observando desde início de 2022, fica claro no gráfico acima que os preços vêm decrescendo desde então. As linhas representam os preços do PE em cada região, a linha amarela representa a nafta e as barras são os spreads PE–nafta.
Desde o pico de preços, em maio do ano passado, eles vêm caindo e iniciaram o mês de janeiro no menor patamar desde então. Junto com os preços, os spreads estão declinantes, e isto é que mais preocupa, uma vez que essa queda está relacionada à demanda pelo produto. Houve uma acentuação da queda após setembro e isso pode estar relacionado à época do ano, mas de qualquer forma esta tendência de spreads menores está confirmando o que vem sendo vislumbrado já há alguns meses.
Outro fato interessante no gráfico é a reversão do preço CIF Brasil, que ficou menor que o preço SEA a partir de agosto. Isso é reflexo direto do retorno de um maior volume de importações, gerando mais oferta nacional e impactando o preço médio local.
E como está essa mesma trajetória para o polipropileno (PP)?
Assim como mostrado para o PEAD, o gráfico abaixo exibe uma análise de preços de polipropileno (PP) nos Estados Unidos, Ásia e Brasil. São preços em dólar, por tonelada e mensais.
Fonte: Polymerupdate
A análise e as conclusões são semelhantes. Fica nítida a redução de preços e spreads também no caso do PP. Desde o pico de preços em maio/junho do ano passado, os preços vêm caindo e entraram em janeiro no menor patamar desde então. Junto com os preços, os spreads estão declinantes, e isso preocupa, pois deixa clara a relação que os preços no Brasil têm com os preços asiáticos. Embora tenha ocorrido um aumento de importações no segundo semestre, o balanço nacional é mais equilibrado para o PP do que no caso do PE, com os preços sofrendo menor impacto do volume que entrou no mercado.
E por último vamos falar da resina poli(tereftalato de etileno), PET
Vamos direto para o gráfico, que aqui contempla os preços na Ásia e nos Estados Unidos, com os respectivos spreads que, neste caso, consideram as principais matérias-primas do PET, que são o ácido tereftálico (PTA) e monoetilenoglicol (MEG).
Fonte: Polymerupdate
Assim como foi observado para as resinas anteriores, os preços do PET sofrem declínio após o meio do ano passado, seguindo as tendências de petróleo e nafta, que também caíram. Os spreads também se reduzem, com maior impacto para os Estados Unidos, principalmente devido ao aumento de preço do PTA norte-americano.
Finalmente, podemos concluir que, para as principais resinas petroquímicas, a tendência que se aventou ao longo do ano passado (principalmente, no segundo semestre) vem se concretizando, isto é, uma redução dos spreads da indústria nos próximos meses (e anos), revertendo um ciclo de alta nas margens. Este impacto é maior na cadeia do eteno e impacta diretamente o PE, uma vez que existe uma grande capacidade potencial, com novas plantas entrando em operação no mundo todo.
Mas, para dificultar, o cenário não é nada claro, pois ainda temos uma guerra em curso na Europa, cujo desfecho não se sabe muito bem, além de questões inflacionárias em muitos países, que podem impactar o consumo, seja para melhor ou pior. Então, precisamos acompanhar de perto essas tendências e o andamento dos preços para planejar as operações da melhor forma.
Imagem-abertura: Pixabay
*Flávio Silva é sócio-diretor da OHXIDE Consultoria – ohxide.com.br (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP).
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